Mau exemplo
Estou chegando de Paris, onde passei uma semana. Fui participar da reunião de pauta de uma revista acadêmica chamada Hermes. Aproveitei para acompanhar as primárias do Partido Socialista, que resultaram na escolha de Ségolène Royal como candidata a presidente da República. Como sempre, retorno com uma única certeza: a França não é um bom exemplo para o Brasil. Faz 12 anos que a direita está no poder e quase não houve privatizações. Direitos sociais não foram abolidos. Mesmo um professor de segundo grau que ganhe 1,8 mil euros (salário médio francês; o mínimo anda em torno de mil euros) tem direito a ajuda pública para alugar um apartamento de quatro quartos (800 euros) onde possa abrigar dignamente a sua família. Se tiver três filhos, então, receberá todo tipo de apoio governamental.
Ninguém chama isso pejorativamente de assistencialismo. De resto, os franceses acham que praticar assistencialismo é uma obrigação governamental. Desenvolvimento e criação de empregos são fundamentais. Mas, enquanto o trabalho não chega, o governo deve alojar e alimentar os que precisam. Deve ser por isso que a França vai tão mal e não consegue passar de quinta (ou quarta) economia mundial. A proteção social na Alemanha é ainda maior. Países assim dão educação, maternal à universidade, gratuita e em turno integral. Péssimo exemplo. Boa parte dos franceses quer mudar e pensa eleger uma mulher presidente da República. Acham que o Estado atual não dá suficiente atenção aos problemas sociais.
Não é por acaso que muitos franceses admiram o nosso presidente operário e não poupam termos elogiosos ao Bolsa Família. A França é mesmo um péssimo exemplo para a nossa direita. Não consegue ser neoliberal. Além disso, corrupção dá cadeia. O pior mesmo da França é a mídia. Essa realmente é um exemplo nefasto para o Brasil. Imaginem que a mídia francesa costuma defender os direitos sociais (aqui chamados “privilégios”) e considerar essencial o papel do Estado para a igualdade e o equilíbrio sociais. Esses franceses não são sérios. O grande jornal Libération está em crise. O concorrente, Le Monde, clama na sua primeira página pela ajuda e pela salvação do oponente. Sem contar que a crise do Libe é discutida nas suas próprias páginas, inclusive com especulações sobre nomes de possíveis diretores capazes de salvar o jornal. Péssimo exemplo!
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Magnífica coluna!! O autor usa uma inteligente ironia e em poucas linhas reforça o quão atrasado nosso país está! Aqui se briga por um salário de 420 reais e por uma vaga na escola pública! Na Europa, a escola de TURNO INTEGRAL É GRATUITA. Aqui, com um salário mínimo de 350 reais deveria assegurar o direito à moradia, alimentação, saúde, lazer (que lazer??)! Lá, mesmo com subsídio superior a mil euros, o governo garante a educação e a moradia! E pra reforçar ainda mais este quadro de atraso no qual estamos inseridos, mesmo com tudo isso, o povo europeu ainda se sente inconformado e profere duras críticas ao governo, clamando por mudança!!! Enquanto aqui...ah...aqui temos que implorar para que deputados federais desistam da idéia absurda de terem seus subsídios elevados em modestos 94%! E com este novo salário, que ficaria em torno dos 24 mil reais, de acordo com pesquisas feitas, seria possível comprar uma tv de plasma por mês, do tipo mais moderno! Fora outras possibilidades, como um final de semana por mês em um Resort 5 estrelas para toda a família (confiram reportagem publicada na Zero Hora de hoje) Pouco, né? A situação é tão vergonhosa que os políticos brasileiros nem sentem mais vergonha (perdoem a frase). Amanhã todo mundo esquece! Daqui a quatro anos, então, nem se fala! E aí estarão eles de novo, concorrendo a outros cargos, se reelegendo...e pedindo por mais um aumento que ofenda aqueles que trabalham 44 horas semanais, não tiram férias e que recebem, atualmente, um salário em torno de 34 vezes menor!
OBS: Me refiro ao salário de deputado federal, que hoje é em torno de 12 mil reais.