Wednesday, April 25, 2007

Jogo da Desgraça

Outro dia eu estava parada no terminal da linha de ônibus que pego diariamente para ir à faculdade onde estudo. Ao ouvir uma conversa entre duas cobradoras e uma vendedora, tive a confirmação de algo que já me tomava o pensamento há bastante tempo: hoje em dia, quem não sofre está fora da realidade, do planeta! Ter histórias dramáticas para contar virou quase uma forma de inclusão social! Explico melhor.
Uma das cobradoras, a quem vamos chamar pelo nome fictício Carla, contou o drama de sua prima. A prima da Carla não conseguia levar uma gravidez adiante e, quando finalmente conseguiu completar os nove meses de gestação e passar por uma sofrida cesariana, a criança morreu com menos de um mês de vida. A depressão tomou conta da vida da prima da Carla. Isto ocorreu há dois anos e, desde então, muitas sessões de terapia e dinheiro gasto com remédios tarja preta marcaram parte da vida da moça.
A vendedora, a quem chamaremos de Roberta, não podia ficar pra trás e, entre pausas que Carla realizava para tomar um gole de café, enquanto contava a história de sua prima, Roberta introduzia sua própria desgraça, numa mistura de relatos dramáticos, comparações e comentários. Regina também teve problemas, chegou quase ao fundo do poço e buscou ajuda psicológica.
Regina, a outra cobradora, se viu como uma maratonista, vendo seus adversários quilômetros a sua frente. Mesmo assim, não podia abandonar a corrida naquele momento. Não, desistir no meio da corrida, nunca! Sabia que não podia competir com a desgraça alheia que ali se apresentava, mas ainda era muito cedo para se retirar do jogo. Não podia ficar calada. Timidamente, falou que tomava florais. Carla e Roberta nem deram importância, mas pelo menos Regina ainda mostrava que estava no páreo.
Este é um jogo totalmente sem regras. Valem interrupções na fala do outro, seja para comentar ou perguntar algo, seja para falar de sua história, como se nem estivesse ouvindo o que o outro diz. Vale fingir também, ou em termos mais apropriados à jogatina, é permitido “blefar”. Os ouvintes fingem que estão prestando a atenção a tudo o que o emissor está enviando, quando, na verdade, apenas seus olhos fitam o desgraçado da vez. Sua mente trabalha incessantemente na busca de outras desgraças muito mais dolorosas, potentes, catastróficas para acabar com o adversário e deixá-lo horrorizado.
Não há exatamente um vencedor ao final do jogo na maioria das vezes. O que vale mesmo não é o fim, mas o durante, a batalha, a escolha das armas e do momento certo para atira-las. Porém, se alguém chorar ouvindo uma história sua ou simplesmente desistir de relatar algum acontecimento profundamente triste que tenha acontecido consigo, com o vizinho ou algum parente para prestar a atenção apenas no que VOCÊ tem a dizer... PARABÉNS! Você venceu o Jogo da Desgraça!
Mas não se iluda: vá pensando no próximo caso a ser contado, pois no dia seguinte o jogo recomeça.

Friday, April 13, 2007

Erros

Não raro tenho o desprazer de deparar com textos repletos de erros de digitação ou, pior ainda, gramaticais, ortográficos, enfim, alguns assassinatos da Língua Portuguesa. Não seria um problema tão grave se estes fossem encontrados em textos ou e-mails trocados entre amigos, mais informais, por exemplo. O que me condicionou a escrever esse post são os inúmeros erros em textos de sites jornalísticos, teoricamente bastante confiáveis. Ler uma matéria no site do jornal Folha de São Paulo com palavras em que faltam letras ou que estão coladas umas nas outras me faz colocar em dúvida a confiabilidade desta fonte de notícias de importância nacional. Erros de português são, para mim, uma decepção, pois estou diante de algo tão absurdo quanto entrar em um táxi em que o motorista não sabe dirigir. Repórteres e escritores têm a obrigação de escrever corretamente.
Lógico, não sou tão radical. Ninguém é enciclopédia e,
obviamente, não sabe absolutamente todas as regras no uso da nossa língua, nem os significados de todas as palavras. Mas há erros gritantes, que qualquer pessoa que tenha concluído o Ensino Fundamental percebe. É DEVER de jornalistas e escritores revisar seus textos, se possível mais de uma vez.
Às vezes, alguns erros passam despercebidos mesmo após uma boa revisão. Errar é normal, faz parte da nossa vida, da condição de seres falíveis e imperfeitos que somos. Mas estes enganos, principalmente para os profissionais da área da escrita, não podem se tornar um hábito. O erro deve ser a exceção, não a regra; algo excepcional, esporádico.
Hoje estava lendo um texto publicado no site Kzuka por Lydy Araujo, no blog "Entre Quatro Paredes" (http://www.clicrbs.com.br/blog/jsp/default.jsp?source=DYNAMIC,blog.BlogDataServer,getBlog&pg=1&template=3361.dwt&tp=&section=Blogs&&blog=114&tipo=1&coldir=1)
Dois trechos me chamaram a atenção.

Primeira: "Conscientizar a galera da importância da camisinha é muito importante."
Não há nada absurdamente errado nesta frase. Mas se a autora tivesse feito uma boa revisão do texto, teria percebido que as palavras "importante" e "importância" juntas na mesma frase não soaram bem e poderia subsituir uma delas.

Segundo: "No Brasil, a epidemia de Aids está sob controle, graças à combinação de prevenção e tratamento. No entanto, isso não serve de consolo. O lance é abrir os olhos e se cuidar, até porque não é só a Aids que mete medo. Ainda existem outras doenças, como DST e HPV, e o risco de uma gravidez indesejada."
O texto inteiro trata de uma ONG que incentiva os jovens a usar camisinha e se utiliza de dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids). Ou seja, um dos assuntos em foco são as Doenças Sexualmente Transmissíveis(DST) e o uso do preservativo como forma de prevenção. Então, quando a autora diz que "não é só a AIDS que mete medo. Ainda existem outras doenças, como DST e HPV", não se dá conta de que DST não é um tipo de doença e sim, todas as doenças que são transmitidas por meio da relação sexual: DST = Doenças Sexualmente Transmisíveis!!
Isto me parecia óbvio até encontrar este texto.

Estes foram exemplos simples, muito menos graves que tantos outros com que tenho deparado todos os dias em sites de grande importância e que, no auge da minha indignação, acabaram eleitos para ilustrar meu blog.